“Olhamos para o sistema educativo como se fossem apenas os exames que importassem”, assim é aberto o debate sobre a avaliação, no terceiro TEDxLisboaSalon, na passada quarta-feira, dia 15.
A Biblioteca dos Coruchéus recebeu encarregados de educação, alunos, professores e psicólogos, num ambiente descontraído e de conversa. Todos eram convidados a participar e as opiniões divergentes enriqueceram a sala.
Como em questão se encontrava um tema complexo, a conversa foi inicialmente mediada pelo psicólogo José Morgado, um participante já frequente do TEDxLisboa.
“À partida quando falamos em avaliação pensamos logo em exames”. No entanto, é essencial analisar o rumo das aprendizagens ao longo do ano — “é uma ferramenta muito importante e indispensável”.
Por outro lado, percebeu-se que “Enquanto os testes, os trabalhos de casa e as apresentações orais estão cada vez mais a ser desvalorizados, os exames e os rankings acabam por merecer o destaque e toda a atenção”. Assim, algumas opiniões revelavam que o terceiro trimestre de cada ano equivale ao ano inteiro e é dedicado (quase sempre) em exclusivo à preparação para os exames.
“Ninguém fala do 7.º ano porque no 7.º ano não há exames”, conta José Morgado, “mas o que acontece no 7.º ano também é determinante para o sucesso do 9.º”.
A discussão estalou sobre os participantes logo quando começou a matéria “Exames” na sala. As perspetivas variavam: ora em favor dos exames, ora em detrimento destes e do próprio discurso que como nuvem negra paira no ar. O stress, o horror e o terror acabam por marcar esta medida — que alguns veem como única — de avaliação de todo o ano escolar. “Não são os exames que nos fazem mal”, explicam os alunos, “é tudo o que está à volta”.
Sabendo que existem crianças que lidam bem com a pressão dos exames, muitos preferem o rigor — “não permitem erros” ou colocam “expectativas para a excelência em tudo”. Para José Morgado, é o resultado de uma “cultura que olha para o erro, “uma sociedade que olha para a forma e não para o conteúdo”. O psicólogo revela que frequentemente faz uma experiência para ver como professores veem o erro, e que em 90% das vezes a resposta que recebe é “12 contas e 2 estão erradas”.
“Ninguém diz 12 contas e 10 estão certas, mas o erro é a coisa mais natural da aprendizagem”, continua o psicólogo, “e é preciso proteger quem está a aprender”.
Alguns pais presentes contam que os filhos consideram a nota “Suficiente” como negativa — “um dia disse-lhe que eu e o pai tivemos muitos Suficientes e só aí percebeu que não era assim tão mau”.
“É preciso mudar o discurso. Ter uma visão que tranquilize os miúdos e os incentive”, explica José Morgado. “Eu peço o melhor possível perante as circunstâncias, e o melhor possível pode ser 17, Suficiente ou 15”.
“Quem trata os filhos da mesma maneira?”, pergunta José Morgado aos colegas participantes. Ninguém levanta a mão. “Então como podemos ensinar todos da mesma maneira?”, continua, “é um mistério”.
Medimos para avaliar e, por isso, “só medindo sabemos que as crianças e os jovens estão a caminhar bem, como é que aprendem”. No entanto, “a escola não pode passar só conhecimento”.
Será que “a avaliação deveria recair sobre as atitudes, a curiosidade, a imaginação, a autonomia e a motivação”? As opiniões dos encarregados de educação dividem-se — “quero que o meu filho brinque mais, mas depois fica para trás”. Por outro lado, “cobro ao meu filho o esforço, o melhor possível, não o resultado ou a nota”.
Antes da entrada para a Faculdade acentua-se a pressão nos exames de 12.º ano. Os alunos não só terminam o secundário com uma determinada média, como ficam a saber se entram no curso que querem e em que lugar. Muitas vezes, as décimas decidem o futuro de muitos jovens.
Perguntámos às crianças o que é para elas a avaliação e as respostas são surpreendentes. Começando com a questão — o que é a avaliação? Pode ser um trabalho, um elemento de avaliação, uma prova que testa conhecimentos, uma forma dos professores avaliarem a matéria lecionada nas aulas, a avaliação serve para “os professores verem se somos bons ou maus alunos”. As crianças em geral não gostam muito, porque “fazem perguntas às quais por vezes não sabemos responder”. Mas, têm consciência que “os testes também fazem falta” e que o grau de dificuldade aumenta quando ouvem a palavra exames. Estes são “mais difíceis”, com “muita matéria”, “rasteiras” e “enorme pressão”. Nunca sabem se estão ou não preparados. O nervosismo toma conta deles que vão assustados fazer o exame.
Porém, para terminar, questionámos ainda: “Se não existissem exames o que aconteceria?” As respostas — “os professores iam avaliando diariamente”, “fazendo exercícios”, “perguntando oralmente”, com “revisões e testes mais ligeiros”, “trabalhos de casa e fichas”. Bastante fácil, não é? O desafio é ouvir as crianças e jovens, os alunos que aprendem. Para eles a avaliação não precisa de ser um “bicho papão”.
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